James Joyce nasceu em Dublin, na Irlanda, em 1882.
Abandonou o curso de Medicina para se dedicar à literatura.
Em 1903 publicou “Dublinenses” e é sobre ele que falaremos nas próximas semanas.
“Dublinenses” foi recusado por 40 editoras e só foi publicado 9 anos depois de ser escrito. Isso porque o autor fez questão de que nada fosse alterado na obra. E o resultado foi um presente atemporal para leitores apaixonados.
Essa é a proposta de Dublinenses, nos fazer pensar no preço da maturidade, nas sombras que ela carrega e na densidade que ela nos traz.
São histórias aleatórias, aparentemente simples, óbvias e incompletas que descrevem episódios corriqueiros de um povo no início do século XX. Mas juntas, nos fazem um convite para refletirmos sobre a vida, o amadurecimento e a linha tênue entre passado e futuro, vida e morte.
Sentimentos complexos são descritos em uma narrativa sutil e direta. E o conjunto da obra se transforma em uma leitura inesquecível e apaixonante!
Vamos falar sobre o segundo conto deste livro: Um Encontro.
Ele representa a infância.
O protagonista narra suas brincadeiras com os amigos imaginando um oeste selvagem. Porém, um dia eles se cansam do faz de conta e procuram aventuras reais. Após a desistência de um dos amigos, Mahony e nosso protagonista resolvem faltar à escola para darem um passeio até o Columbário. Quando estavam indo na direção do porto, Mahony resolve brincar de índio e com um estilingue à mão espanta algumas meninas que são salvas por dois meninos que começam a tacar pedra nos amigos.
Após se livrarem dos atiradores, eles continuam sua jornada até chegarem ao porto de Dublin onde admiram o cotidiano dos trabalhadores. A fumaça, a pescaria, o veleiro, as locomotivas, tudo compõe o cenário de uma cidade em desenvolvimento. E visualizar tudo aquilo faz com que os meninos sintam sua alma crescer.
“Lar e escola pareciam afastar-se de nós e sua influência apagava-se.”
A sensação que temos é que ninguém percebe aqueles meninos perambulando entre a multidão, mas eles percebem cada detalhe daqueles desconhecidos que formam o cenário perfeito para a aventura que eles procuravam.
Quando o sol começa a desaparecer, os meninos desistem de chegar ao seu destino e encontram um homem que começa a conversar com eles.
“Acrescentou que o período da escola era sem dúvida o mais feliz da vida e que daria tudo para ser jovem outra vez. Enquanto expressava tais sentimentos, que nos aborreciam um pouco, permanecemos em silêncio. Pôs-se então a falar de escola e de livros. Perguntou-nos se havíamos lido as poesias de Thomas Moore ou as obras de Sir Walter Scott e de Lord Lytton. Fingi ter lido todos os livros que mencionou...”
Percebemos o contraste entre juventude e velhice. A sede pela descoberta e a sede pela sabedoria. Enquanto os meninos admiravam a vida adulta e o cotidiano urbano, o homem lamentava a vida passada e saboreava a nostalgia da infância e todo o seu frescor.
Após falar sobre as meninas e os namoros da juventude, salientando sobre os traços atraentes da feminilidade, o desconhecido se mostra amargurado.
“O homem prosseguia o monólogo. Parecia ter esquecido seu liberalismo anterior.”
Essa amargura e dureza transmitidas pelas palavras e expressões do desconhecido assustam nosso protagonista que vai embora ao encontro do seu amigo.
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