Jostein Gaarder não nos decepciona ao usar a ficção para nos conduzir a uma reflexão sobre a morte e sobre essa aventura maravilhosa que é a vida! Afinal, isso é a sua especialidade! Colocar livros dentro de livros, cartas dentro de histórias e filosofia encantadora dentro de ficção. E por falar em encantadora, essa talvez seja uma boa palavra para começa a falar de “A Garota das Laranjas”. O livro se parece com um conto de fadas, nos desafiando a todo tempo para encontrarmos o conto de fadas dentro de nossas vidas.
Georg começa a ler uma carta que seu pai, morto há 11 anos, deixou para ele. Inicialmente ele fica confuso com o empenho que seu pai tem em contar a história de uma enigmática garota que ele encontrou no trem carregando uma bolsa cheia de laranjas. O menino decide usar as palavras do pai para escrever um livro junto com ele, onde ambos conversarão através desses escritos.
Com uma doença terminal, Jan decide usar seus últimos dias de vida para salvar seu filho da mesmice e dessa habilidade que adquirimos, com o tempo e com as dores, de nos robotizarmos no mundo e esquecermos de olhar para ele.
O garoto mora com a mãe, a irmã e o padrasto, mas apesar de percebermos que Georg vive em um lar estruturado e que não lhe falta amor, logo no início, suas palavras já nos denunciam o quanto a falta de seu pai deixa uma lacuna em sua vida.
A história nem é tão eletrizante assim! Às vezes temos a sensação de que o autor exagera um pouco no clima de mistério e isso pode incomodar. Por se tratar de um romance com 132 páginas, tudo parece superficial demais! Os personagens são rasos e o enredo é corrido, porém, quando conseguimos finalmente topar a proposta do autor, ficamos fascinados e profundamente envolvidos com Georg e Jan.
É impossível não se emocionar! Com uma narrativa doce e filosófica, somos convidados para um mergulho profundo em todas as nossas certezas e para uma reflexão sobre o apego e a impermanência das coisas. O autor nos provoca a todo momento e usa o universo para nos mostrar como somos pequenos, nos lembrando de como estar vivo é fascinante!
"Pode ser que a nossa criação ainda não esteja completa. É natural que o desenvolvimento físico do homem preceda o psíquico. E talvez a natureza física desse universo seja uma coisa apenas exterior, um material necessário ao autoconhecimento do cosmos."
Enfim, a principal função dessa história é mexer com nossas estruturas e nos mostrar o quanto tudo é instável e passageiro, inclusive a vida! O autor não poupa esforços para nos fazer pensar sobre a morte de uma maneira profunda, mas ao mesmo tempo sutil! Mas apesar de sua sutileza, é impossível não terminar a leitura com a garganta apertada, porém, sentindo a vida muito mais leve!
Uma leitura que se parece muito mais com uma viagem dentro de nós mesmos, onde Jostein utiliza a história Georg como distração para que essa viagem não seja dura demais!
"... sei que existe o bem. Sei que entre dois abismos desabrocha uma bonita flor e que, em breve, um alegre abelhão sairá voando dessa flor."
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