Memória de Minhas Putas Tristes é um romance curto, narrado em primeira pessoa por um personagem de 90 anos que não nos diz o seu nome e decide se dar de presente de aniversário uma noite de sexo selvagem com alguma virgem.
Ao longo de sua vida, o narrador nunca fez sexo sem pagar por isso, apreciava a solidão e nunca viveu um grande amor.
"Ignorava as manhas da sedução e sempre tinha escolhido ao acaso as noivas de uma noite, mais pelo preço que pelos encantos, e fazíamos amores sem amor, meio vestidos na maior parte das vezes e sempre na escuridão para imaginar-nos melhores"
Contentava-se em levar uma vida simples, sem grandes emoções, esperando pelo momento de sua morte. Mas tudo muda quando, ao entrar no quarto do bordel e encontrar a menina de 14 anos nua e adormecida na cama, nosso simpático narrador mergulha em um envolvente conto de fadas.
Depois do primeiro encontro, ele não consegue mais imaginar sua vida sem sua bela adormecida e continua a se encontrar com ela enquanto a mesma dorme. Contenta-se em enchê-la e carícias e imaginar sua vida real além daquele quarto.
A fada madrinha da história é uma cafetina que organiza os encontros.
O que poderia ser um livro repleto de deliciosas "safadezas", na verdade, é um livro que nos faz acompanhar o florescimento de um amor platônico preenchido e sustentado pela falta. E o narrador tem consciência disso, porque se nega a conhecer a realidade de seu grande amor, inventando até mesmo um nome para a menina.
Temos a mesma sensação que o narrador, porque só podemos enxergar com os olhos dele. Então, assim como ele decide acreditar que a bela adormecida está entorpecida pelo cansaço de uma vida difícil de uma pregadora de botões, aliado ao fato de tomar poções de valeriana oferecidas pela fada madrinha do casal, também preferimos acreditar que o florescimento desse amor adoça a pedofilia.
Somos conduzidos a uma reflexão acerca da vida e do envelhecimento, através de uma narrativa filosófica do velho que no auge dos seus 90 anos encontra o prazer da vida e passa a vê-la com mais humanidade depois de renascer na pele de um homem apaixonado que jamais existiu e passar a pensar em uma vida de 100 anos ao lado de uma mulher 76 anos mais jovem.
É isso!
Queremos ser tão iludidos quanto ele apenas para continuar na companhia dessas páginas que conversam com a gente e acrescentam frescor ao nosso dia, nos fazendo lembrar que o grande papel do amor é preservar nossa juventude. Afinal:
"A idade não é a que a gente tem, mas a que a gente sente."
E a velhice:
"Acontece que a gente não sente por dentro, mas de fora todo mundo vê."
Por fim, sobre a memória:
"Minha única explicação é que da mesma forma que os fatos reais são esquecidos, também alguns que nunca aconteceram podem estar na lembrança como se tivessem acontecido. "
É o conto de fadas da vida: chegar ao final dela lembrando das coisas como gostaríamos que tivessem sido, nem sempre exatamente como aconteceram.
E por mim também, tudo bem se for assim!
E por mim também, tudo bem se for assim!
Sobre o autor:
Gabriel Garcia Márquez nasceu na Colômbia em 1927 e se tornou um dos autores mais importantes do século XX. Com seu livro “Cem Anos de Solidão” popularizou o realismo mágico e capturou milhares de fãs que se tornaram fiéis às suas obras.
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