“E o mundo está cheio de sereias. Sempre há um canto de sereia que te seduz para o naufrágio. Alguns de nós podem ser mais suscetíveis que outros, mas sempre há uma sereia.” (p.107)
Se você pensa que será o mesmo ao terminar essa leitura, você está enganado! Esse livro é um desafio tão grande que duvido qualquer um terminar de lê-lo sem se sentir um leitor muito maior! Não estou dizendo que todos vão amá-lo. Há uma grande chance de você detestá-lo, mas isso não vai te impedir de reconhecer a potência dessa narrativa perturbadora e intensa!
India Morgan Phelps, ou simplesmente Imp, é uma garota esquizofrênica que leva uma vida solitária, porém, o mais normal possível! Sua vida solitária se deve ao fato dela ter perdido avó e mãe para a mesma doença, ambas se suicidaram. Mas não é apenas isso que assombra Imp.
Narrando em primeira pessoa, Imp começa nos dizendo que vai nos contar uma história de fantasmas. Sua intenção não é escrever um livro, mas escrever suas memórias para tentar entender o que anda acontecendo em sua mente.
Sua vida começa a mudar quando ela conhece Abalyn, uma mulher transsexual que ela leva para casa e logo depois começa a namorar. As coisas pioram quando Imp encontra outra mulher e decide ajudá-la. Com uma dificuldade perturbadora em se localizar no tempo, a narradora começa a nos apresentar um fluxo de consciência que alterna entre realidade e devaneio, fazendo com que nós, leitores, passamos a ficar tão inquietos quanto a protagonista.
Artista plástica e apreciadora de vários tipos de arte, India está sempre fazendo referências a contos de fadas, quadros famosos e músicas. Além disso, algumas lendas urbanas e fatos bizarros famosos também são mencionados. E nessa busca desesperadora pela verdade, somos levados para um lugar sombrio na mente da narradora, até que sentimos a mesma necessidade dela em pesquisar todos os detalhes que são deixados pelo livro como migalhas para nos conduzir por um caminho em que nada parece fazer sentido. O que quero dizer, é que no meio de tantas referências, a autora nos prega uma peça e nos apresenta elementos criados por ela, assim, não fica muito difícil nos sentirmos como Imp, submersos em verdades que nem sempre são fatos, às vezes nos sentindo sereias, metade realidade e metade mito e outras, vestindo pele de lobo.
Entre “A Pequena Sereia”, “Alice no País das Maravilhas” e “Chapeuzinho Vermelho”, acabamos por perder completamente o controle e desistimos de tentar enxergar nessas águas turvas, nos entregando completamente à narrativa de Imp, sem esperança alguma de chegarmos em algum lugar.
“... assombrações são memes, em particular, transmissões de ideias perniciosas, doenças contagiosas sociais que não precisam de hospedeiro viral nem bacteriano e são transmitidas de milhares de modos diferentes. Um livro...”
Assim que “A Menina Submersa” precisa ser lido! Sem amarras, expectativas ou boas intenções. O livro vai te virar do avesso e fazer você crescer como leitor de uma maneira que poucos livros são capazes de fazer e isso pode incomodar bastante!
“Dualidade. A mutabilidade da carne. Transição. Ter de esconder o seu eu verdadeiro. Máscaras. Segredos. Sereias, lobisomens, gênero. As reações que podemos ter diante da verdade das coisas, diante da expressão mais sincera de alguém, diante de fatos que ocorrem contra as nossas expectativas e os nossos preconceitos. Confissões. Metáforas. Transformação. Por isso, é muito relevante. Não apenas uma conversa casual na hora do café. Não deixe nada relevante de fora, por mais trivial que possa parecer.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário