domingo, 14 de maio de 2017

Sentimentos Literários - Diário de uma escrava (Rô Mierling)

Demorei algum tempo para conseguir digerir essa história e dividir meus pensamentos e sentimentos referentes a ela. 


Vamos falar da edição lacradora da Darkside?

Então... Provavelmente este será um dos livros mais bonitos (fisicamente) que você já viu na vida. As folhas formam um degradê, a capa traz uma arte incrível... elementos indispensáveis para tornar a leitura tão fluida como se tornou. Ou seja, não se engane, leitor! Alguns recursos são criados propositalmente para que seu cérebro aceite aquilo que você rejeitaria se lhe fosse oferecido de outra maneira e a Darkside acertou na mosca, ou melhor, na borboleta quando decidiu lançar essa edição linda com uma história tão grotesca!

A autora é Rô Mierling, uma gaúcha, escritora, roteirista e antologista que atua na divulgação e incentivo de leitura e escrita junto a diversos projetos. 

Enfim, sobre a história, conhecemos Laura, uma menina que está há 4 anos vivendo em um buraco, privada de luz solar, banho, comida e qualquer coisa que um ser humano precisaria para sobreviver. Laura foi sequestrada aos 15 anos por um homem que a mantém como sua escrava sexual. Inicialmente a garota nos conta sua história como se estivesse contando a um diário, mas às vezes, nos deparamos com uma narrativa em terceira pessoa que como uma câmera vai nos mostrando outro núcleo.
Na primeira parte do livro. Laura é a vítima! Aquela menina torturada que tem sua alma arrancada pelas mãos de um psicopata. A autora não nos poupa e escancara todas as atrocidades que um homem pode fazer com uma mulher, o que levantou algumas polêmicas entre leitores que acreditam que ela acabou apelando e exagerando em detalhes que expõem demais a nós mulheres. 
Na segunda parte do livro nos deparamos com a transformação de Laura, em como ela, sem deixar de ser vítima, passa também a ser vilã e cria um laço doentio com seu algoz. 
Os sentimentos se misturam também para nós leitores! Se por alguns momentos sentimos uma dor insuportável por Laura, rapidamente nos deparamos com situações onde a raiva nos domina. 
A frase inicial do livro faz todo sentido: 
“Para aqueles que eram anjos, mas a vida transformou em demônios.”


O degradê do livro, a borboleta negra na capa... tudo se encaixa!

Mas isso não me impediu de perceber algumas falhas, algumas pontas soltas que foram deixadas propositalmente, mas acabaram prejudicando o arremate tão esperado. O que não tirou o brilho do conduzir da história e a habilidade que a autora tem de nos prender, mesmo com detalhes tão brutais!
O mais importante de tudo é conseguirmos acompanhar o amadurecimento de um relacionamento abusivo. Através de uma história aparentemente tão absurda, é possível entender como algumas mulheres podem agarrar-se a situações insuportáveis porque não conseguem encontrar no mundo lugar melhor que lhes caibam. São mulheres que se convenceram, não apenas de sua limitação em alçar novos voos, mas que acreditam que, depois de tudo que sofreram, o mundo não é mais para elas e que não merecem nada melhor do que aquilo que estão vivendo. Não é apenas a força que lhes é arrancada, é a construção de uma crença equivocada de que não podem apresentar a sua dor, porque por ser grande demais, o mundo não a suportaria. Então, elas optam por se esconder na escuridão do abuso. 
Enfim, uma história com várias nuances, vários pontos de vista, nada agradável e nem sempre recomendável, mas que certamente nos faz pensar muito sobre o julgamento que fazemos sobre mulheres que se agarram a uma vida que acreditam ser a única que vale a pena ser vivida.          

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