Paulo Freire nasceu no Recife em 19 de setembro de 1921 e foi educador, pedagogo e filósofo.
Seus pensamentos influenciaram profundamente a educação, rompendo com a ideia de um escola alienante e “transmissora” do saber, para se construir uma escola democrática e libertadora.
No livro “Pedagogia do Oprimido”, Paulo Freire apresenta sua filosofia marxista e evidencia como o sistema de classes é reproduzido através de grupos dominantes e dominados dentro da escola. Aos grupos dominantes ele chamou de opressor, sendo caracterizado pelo grupo de pessoas que , desumanizadas, impõem sua força sobre o oprimido na busca pela manutenção do poder através de uma verticalização de conceitos e ações.
Para que ocorra a libertação, os oprimidos devem libertar-se dos bloqueios de suas ações, tendo a cautela para não se transformarem em opressores dos opressores, mas restaurar as relações humanizadas, sem a ideia de se impor a um grupo social, mas pensando em relações dialógicas.
Para o filósofo, a escola é uma instituição política que, através do currículo, reproduz os esquemas políticos.
O primeiro passo para a libertação deve ser o desvelamento do mundo opressor buscando a desalienação através de práticas humanizadoras que transformam a pedagogia do oprimido na pedagogia dos homens.
Na edição lançada pela Editora Paz e Terra em 2016, o livro possui 254 páginas e é dividido em 4 capítulos, um prefácio escrito em 1967 pela professora Ernani Maria Fiori.
Na abertura do livro o educador conceitualiza a sectarização, que seria o fanatismo sustentado pelos opressores e seguido pelos oprimidos como modelos estabelecidos, e a radicalização que rompe com esses modelos.
“Ninguém liberta ninguém. Ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão.”
A organização e engajamento dos oprimidos em prol da mesma causa é fundamental. Mas o processo de libertação não se dá através do mero ativismo, é preciso reflexão e transformação.
Na concepção “bancária” o opressor impõe sua cultura e deposita informações através da memorização e da alienação, reproduzindo sociedades mais passivas como modelo de opressão.
“Ninguém educa ninguém. Ninguém educa a si mesmo: Os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo.”
Paulo Freire nos mostra a necessidade de um educador dialógico para se romper com a reprodução de uma sociedade passiva que inibe a capacidade de crítica e reflexão dos indivíduos.
Para o filósofo, aluno e professor precisam trocar informações e experiências sobre o mundo, sendo uma relação horizontal que, através do diálogo, reconhece o conhecimento prévio de ambos.
Sendo o homem um ser histórico, ele é um ser inacabado que busca por transformação. Quando é privado disso, é oprimido.
A ação dialógica compõe-se de colaboração, união, organização e síntese cultural.
O diálogo serve para problematizar a educação e começa na busca do conteúdo programático através da investigação dos temas geradores como ponto de partida.
Os temas envolvem e são envolvidos pelas situações-limites. As tarefas envolvidas devem promover atos-limites para que os indivíduos realizem o inédito viável, ou seja, os temas geradores promovem tarefas em que os alunos encontram a necessidade de superar e por isso, realizam algo inédito.
As fases de investigação dos temas geradores são: observação para colher dados, elaboração de codificação, círculo de investigação temática e início de estudo sistemático e interdisciplinar dos achados.
A busca do conteúdo programático e a investigação de temas geradores não podem impor uma visão de mundo, mas construí-la em comunhão.
A unidade epocal é o conjunto de ideias, valores e dúvidas de uma época, enquanto o universo temático temas da época são o conjunto de representações concretas das ideias e dos obstáculos.
Os temas são envolvidos e envolvem as situações-limites promovendo atos-limites.
A Investigação dos temas geradores e sua metodologia
Sendo a investigação temática a investigação do pensar de um povo através de um processo de busca, criação e conhecimento que descobrem o encadeamento de temas e interpenetração dos problemas, através de um movimento de ida e volta do abstrato ao concreto, ou seja, de uma interação dialética e uma análise de uma situação codificada para descodifica-la, a investigação temática conscientiza a realidade e a autoconsciência sendo o ponto de partida do processo educativo libertador.
“Todo ser se desenvolve (ou se transforma) dentro de si mesmo, no jogo de suas contradições.”
Uma sociedade em processo de libertação, precisa dialogar com o abstrato e o concreto através de um "quefazer", que seria a reflexão-ação e não um mero ativismo, que não é o caminho da revolução, porque absolutiza a ignorância transformando a comunicação em comunicado e promovendo uma ação antidialógica.
A teoria da ação antidialógica caracteriza-se através da conquista, onde a apresentação do mundo para as massas é algo estático em que os homens precisam se ajustar, sustentando mitos que são introjetados através de slogans e veículos alienantes que formam estereótipos a serem seguidos. Outras características da ação dialógica é a divisão para manter a opressão, a manipulação e a invasão cultural.
São ações que enfraquecem e anestesiam as massas, criando líderes populistas que confundem e dividem os oprimidos.
Através da invasão cultural, os opressores impõem sua visão de mundo e tolhem a criatividade alienando os indivíduos que acabam por incorporar uma cultura.
As escolas e os lares, sustentando uma autoridade paternalista, são agências formadoras de futuros invasores. As massas reconhecem essa autoridade paterna e acabam por aceitar essa figura o que explica a grande adesão das massas à ação antidialógica na posição de classes.
Assim, é necessário uma revolução, pois, para haver desenvolvimento é necessário que haja movimento de busca e criatividade tanto no espaço quanto no tempo.
Já a ação dialógica possui características que são a co-laboração, a união, a organização e a síntese cultural.
Os sujeitos se encontram para transformar o mundo em co-laboração, denunciando a segregação que impossibilita a libertação. Essa organização se caracteriza pela coerência entre o que se fala e o que se faz, pela ousadia, a radicalização, a valentia de amar e a crença nas massas populares.
Através da síntese cultural, os indivíduos incidem sobre a estrutura social de forma sistematizada como uma modalidade de ação frente a força da própria cultura reivindicando e problematizando a própria reivindicação.
Desta forma, nenhuma liderança nem revolução se impõem, elas são construídas através da reflexão, da ação e do diálogo.
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